História de Asseiceira, 40 - Origens da Linhaceira: Porto da Linhaceira (1ª parte)

Investigar a História, tal como fazer pesquisas arqueológicas ou qualquer outro tipo de investigação, é assim mesmo: por vezes folheamos milhares de documentos, deslocamo-nos a arquivos longínquos, prescrutamos os cantos mais escondidos da internet, e as evidências que queríamos estão ali, desde sempre, ao nosso lado ou mesmo à frente dos nossos olhos.
Também connosco aconteceu assim nesta tarefa hercúlea de procurar as raízes de uma aldeia cujas raízes humildes não nos legaram pergaminhos nem pedras de armas. Quando há dois anos atrás preparávamos o livro "Linhaceira e as suas escolas", e sendo apenas recolectores de memórias, não historiadores, consultámos toda a (escassa) bibliografia óbvia, as fontes que nos eram acessíveis e as pessoas com conhecimentos académicos que nos podiam ajudar.
A conclusão foi surpreendente: em 1527, segundo os dados do Numeramento, existia um lugar chamado Mynhaxeira ou Casais da Mynhaxeira, que seria o nome original da Linhaceira, topónimo que só nos apareceria escrito da forma actual num registo de casamento de 1706.
Ambos os dados foram publicados no livro mencionado, sendo que em toda a bibliografia referente à freguesia e antigo concelho de Asseiceira até então publicados (bem como em tudo o que sobre o tema se escreveu depois) nunca o nome Linhaceira é apontado em nenhum documento antes da segunda metade do século XVIII.
E foi assim que, há poucos meses atrás, tropecei no livro "Thomar Santa Iria" de Vieira Guimarães. É um clássico dos estudos tomarenses e, embora há muito esgotado nas livrarias, disponível na Biblioteca Municipal de Tomar. Nunca o tinha consultado, porém, até pelo facto de ser recente esta minha tarefa de investigador, e muito centrada numa temática que não julgava poder ali encontrar.

Qual não foi a minha surpresa, pois, ao deparar ali com a citação de um documento datado de 17 de Outubro de 1530 onde se diz: "ate chegarmos a este rio de Tomar onde per ele vyemos ate a Lynhaçeira que he abaixo de Matreina".

 

A descoberta desta preciosidade, num livro publicado há mais de um século, fez-me sorrir pela forma quase caricata como nos apareceu, mas deixou-me também pleno de esperança de que o futuro ainda nos reservará muitas surpresas sobre este tema, a História da Linhaceira, que ninguém estudara ainda até há bem pouco tempo atrás.

Serve toda esta introdução para explicar também o porquê de a série História de Asseiceira dar hoje um destaque tão grande a um assunto.
Por um lado, é preciso não esquecer que este blogue nasceu com o objectivo de contribuir para criar uma base de dados sobre a História da Linhaceira, em primeiro lugar.
Mas, por outro, grande parte da informação constante dos anteriores cerca de quarenta artigos é apenas uma sistematização dos dados recolhidos e publicados por três investigadores que abordaram a freguesia de Asseiceira: Amorim Rosa, José Rafael Sirgado e Carlos Batata. Este é o primeiro artigo em que nos debruçamos sobre um dado recolhido por nós no contexto dos estudos locais (embora já publicadas, as referências no livro de Vieira Guimarães não são abordadas na perspectiva da freguesia mas apenas do concelho centrado na cidade).
Eis o porquê de tanta conversa, que se prolongará em mais dois artigos que nos ajudarão, eles sim, a perceber esta descoberta.

Comentários

Mensagens populares