História de Asseiceira, 67 - Linhaxeira

30 de Agosto de 1722 pode ser uma data importante para nos ajudar a compreender a evolução do nome da Linhaceira e em particular a dicotomia entre Linhaceira e Mynhaxeira na primeira metade do século XVI.
Tudo isto por causa de uma simples letra. Se olharem com atenção para a imagem deste registo de casamento, vão reparar que no canto superior esquerdo aparece escrito Linhaxeira, com um x em vez de um c.



O topónimo não volta a aparecer no registo, pelo que se podia considerar, à primeira vista, que se trataria de uma gralha.
Há aqui, porém, um dado crucial. Os registos de casamento da freguesia de Asseiceira, desde o mais antigo, em 1706, até este ano de 1722, foram feitos pelo padre Luís Ferreira Branco.
A partir do primeiro casamento registado na Guerreira, imediatamente anterior a este, são assinados pelo padre Manuel de Azevedo. Que, curiosamente, em Novembro deste mesmo ano de 1722, no registo seguinte referente a este lugar, já escreve Linhaceira, correctamente.


O que é que isto pode querer dizer? Estávamos numa época em que a grande maioria das pessoas não sabia ler nem escrever, em que não havia placas toponímicas à entrada das localidades e até o nome da vila, sede de concelho, aparecia escrito de formas diversas em vários documentos.
Ora, nada mais natural do que um recém-chegado à freguesia, ao perguntar o nome de um lugar, escrevê-lo da forma que lhe fora transmitido, e é bem possível que os habitantes dissessem "xeira" em vez de "ceira".
Isto é importante porque, a ser verdade, poderia significar que o escrivão Jorge Fernandes que em 1527 esteve na Asseiceira para coligir os dados referentes ao concelho para o "Numeramento", tivesse também percebido erradamente o fonema da penúltima sílaba do topónimo, escrevendo Mynhaxeira em vez de Mynhaceira.
Se assim fosse, caia por terra a teoria da "minha geira"e tornava-se também muito mais provável um outro lapso: que o escrivão tivesse percebido erradamente o L de Linhaceira como um M (trocar o i por um y era uma prática habitual na época).
E assim se explicaria que os dois documentos mais antigos com o nome da nossa terra, apesar de contemporâneos, fossem tão divergentes.

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